“O documento
arquivístico torna-se aquele que é gerado espontaneamente no exercício das
atividades rotineiras de uma instituição [...]” (LOPEZ, 1999, p. 41)
“O conceito de
arquivo demanda, ainda, a ação deliberada de preservar os documentos após o
cumprimento das atividades para as quais foram criados, com finalidade de prova
da execução de tais atividades.” (LOPEZ, 2012, p.16)
A imparcialidade
é uma das qualidades do documento de arquivo apontadas por Luciana Duranti.
“A
imparcialidade dos documentos refere-se à capacidade dos documentos de
refletirem fielmente as ações do seu produtor. O autor enfatiza a verdade administrativa do documento e não a verdade do seu
conteúdo. O motivo da criação de um documento, independentemente do seu
conteúdo ser ou não, suponhamos, uma fraude, seria legítimo no que se refere à
sua relação com as atividades da entidade que o criou.” (RODRIGUES, 2006)
“A distinção entre atividades-meio e
atividades-fim irá determinar, dentro das organizações o alcance que os
documentos terão. Tais diferenças também têm sido refletidas no tratamento
documental e, principalmente na avaliação dos registros com potencial para se
tornarem permanentes. Em linhas gerais, a preservação dos documentos-meio
restringe-se à vigência legal e ao uso administrativo, enquanto que os
documentos-fim são, frequentemente, destinados à guarda permanente.” (LOPEZ,
2012, p.20)
Segundo Lopez (2012) o
arquivo é um conjunto sistematizado de provas de ações, que deve abranger toda
a existência do titular e seus documentos são produtos da uma vontade
administrativa.
Então a reportagem, nesse sentido, pode ser considerada
um documento arquivístico dotado de organicidade. Ela vai compor o fundo da
instituição que a criou como prova de uma atividade informativa que é para ser
uma atividade-fim de uma instituição jornalística. Independentemente
de ser verídica ou não, haveria informação arquivística no vídeo, uma vez que
se relaciona à comprovação de uma atividade da pessoa física ou jurídica que a
produziu ou recebeu, devendo, portanto ser arquivada.
Há apenas uma
falsidade histórica, ou seja, “traz a inverdade na própria actio: o fato não existe ou existe de modo diferente do exposto”
(Bellotto apud Glossário geral de Ciência da Informação da FCI - UnB) ou como
lemos em Duranti: equivale dizer que os fatos descritos não são verdadeiros.
Podemos considerar ainda que o vídeo faça parte do fundo do
programa de humor que o gerou em seu cotidiano, de forma a satirizar o
jornalismo. Em ambos os casos, pode-se considerar que houve uma denúncia, e que
as mesmas informações serviram como base ao mesmo interesse.
Se fôssemos
tornar a veracidade como relevante e de importância extrema, tudo que fosse
ficção não entraria no arquivo de uma empresa, então filmes e livros deste tipo
não fariam parte das tarefas de seus criadores.
A interpretação
do documento de maneira crítica e a atribuição de valores ideológicos deve
ficar à cargo de quem tem acesso à ele, cabendo ao arquivista o tratamento e a
disponibilização da informação, levando é claro, em consideração, a sua
contextualização, o que requer conhecimento da diplomática, que define o que
são os documentos, complementada pela tipologia, que determina o titular
arquivístico e a real função de guarda do documento dentro do arquivo.
Referências:
LOPEZ, André Porto Ancona.
Identificação de tipologias documentais em acervos de trabalhadores. In:
Antonio José Marques; Inez Terezinha Stampa. (Org.). Arquivos do mundo dos
trabalhadores: coletânea do 2º Seminário Internacional. São Paulo; Rio de
Janeiro: CUT; Arquivo Nacional, 2012. P. 15-31.
LOPEZ, André Porto
Ancona. Tipologia Documental de Partidos e Associações Políticas Brasileiras.
São Paulo: História Social USP/Loyola, 1999.
RODRIGUES, Ana Márcia Lutterbach. A
teoria dos arquivos e a gestão de documentos. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, vol.11, nº.1, Jan./Apr. 2006.
Glossário geral de Ciência da Informação da FCI - UnB
<http://www.cid.unb.br/M452/M4522012.ASP?txtID_PRINCIPAL=95>
Imagem extraída de: http://scienceblogs.com.br/cognando/2012/04/a-verdade-esta-no-olho-de-quem-ve/, em 12/02/2013.